Se encontraram pela manhã, na praça do bairro, já incorporada às caminhadas rotineiras de ambos. O teu está com uma cor melhor hoje, comenta o primeiro. Sim, suspira o outro, completando: foram dias de atenção redobrada, investindo minhas melhores energias. Queria muito que ele se recuperasse!
E o teu, pelo visto, está tranquilo, fala devolvendo a gentileza atenciosa do companheiro de caminhada. O outro, com um sorriso calmo, responde: Quem me dera! Às vezes, penso que deveria sair com ele de focinheira. É cada rompante de raiva que fico com medo de ele machucar alguém. E é completamente imprevisível. Sem ser provocado, sem ser ameaçado, simplesmente aquela fúria toma conta e o jeito é tirar quem estiver por perto. Afinal, jamais vou usar de violência com ele.
O amigo olha para os dois sentados, lado a lado, serenos, e fica tentando imaginar aquela criatura em um ataque de fúria, algo quase que inacreditável. Coloca a mão no ombro do parceiro e comenta: E tem como deixar de amar? Sabemos que são como crianças engatinhando, ainda tem “séculos” de aprendizagem pela frente. O meu, no domingo, se passou geral e o resultado foi o dia inteiro fazendo xixi fora do lugar e vomitando. E eu pacientemente acompanhando essa desordem e limpando como dava. Mas depois, no resto da semana, ele conseguiu voltar à rotina. E quando isso acontece é uma benção.
Entendo perfeitamente. O meu, na quarta-feira, no bar do Antônio, aquele lá da esquina, do nada subiu em cima da mesa, se sacudindo com aquele porte todo. Tenta imaginar: foi copo, garrafa e batatinha frita voando para tudo que é lado. Sorte que o seu Antônio é gente boa e foi muito compreensivo.
Riram e olharam com carinho para os dois, que permaneciam sentados no banco da praça, cada um agarrado na sua garrafa de cachaça, enquanto cochilavam calmamente. Afinal, essa é a missão dos anjos protetores: zelar com amorosidade por aqueles que lhe foram confiados.