Só mais um emoji

Desliga tu.

Ah, não. Desliga tu.

Eu não vou desligar. Desliga tu.

Ah, por favor, desliga tu…

- Mô, dá para acreditar que o pai e a mãe, quando eram namorados, ficavam meia hora nesse joguinho só para encerrar a ligação telefônica? Isso depois de quase uma hora conversando. E no tempo do tal do telefone fixo, que se pagava por minuto de ligação!

Mandou este áudio para ela no whatsapp e não esperou muito para receber a resposta.

- Que doideira. Hoje a gente nem precisa ligar pra se falar. E áudio se tiver mais de um minuto já é podcast, kkkkk.

Seguiram trocando áudios e zoando os pais dele que, jovens e apaixonados, empurravam um ao outro a iniciativa de desligar o telefone. Também refletiram o quanto era difícil namorar naquele tempo, em que não existia celular e o recurso da vídeo chamada para ver o rosto da pessoa amada.

Eram adolescentes, estavam concluindo o ensino médio em escolas diferentes. Não conseguiam se encontrar durante a semana, pois os horários eram corridos entre aulas, estágios e curso pré-vestibular. Mas à noite, ficam mais de hora trocando áudios pelo celular e comentando os acontecimentos do dia.

Nesta noite, repetiram o ritual até que o último áudio dele veio acompanhado de um bocejo no final. Ela respondeu dizendo que estava na hora de eles irem dormir. Ele concordou. Enviou um “gif” de boa noite. Ela respondeu com outro “gif". Ele enviou um emoji de beijos. Ela, por sua vez, mandou aquele emoji de carinha com corações no entorno. Recebeu de volta o emoji do coração vermelho pulsante. Não teve dúvidas e enviou o emoji da carinha com coraçõezinhos nos olhos. E assim ficaram pelo menos mais meia hora, trocando o “desliga tu” por só mais um emoji.