Pitanga não dá em vaso, sentenciou ele. Vou tentar igual, respondeu ela esperançosa, com a muda de pitangueira em mãos. Num gesto otimista, plantou a pequena planta num vaso no fundo do quintal de piso cimentado, sob o olhar cético dele.
Diariamente regava a arvorezinha que, timidamente, ia crescendo. Conforme a pitangueira se expandia no vaso, cresciam as apostas do casal sobre a vinda de frutos.
Alheia ao que pai e mãe pensavam, a menina conversava com a pitangueira, na sua linguagem de quatro anos de idade: a gente bota água, daí tu toma a água e pega sol, depois cresce e dá flor que vira frutinha. E eu vou comer todas as frutinhas.
Enquanto a mãe pensava que ela falava com as bonecas, ela conversava com a arvorezinha. Elogiava suas folhas verdes, dizia que era a pitangueira mais linda do mundo. E a planta ouvia e crescia.
Um ano se passou. A menina festejou cinco anos no verão. E disse para a árvore que queria pitangas de presente ainda naquele ano. Afinal, ambas cresceram “muito” nesses meses todos.
A pitangueira ouviu a menina. E na primavera floresceu. Alheia ao diálogo da criança com a árvore, a mãe comemorou o surgimento das flores. O pai disse que as flores não vingariam a ponto de gerar frutos. E seguiram com sua pequena polêmica, mais para implicar um com o outro do que para inovar nas técnicas agrícolas.
E numa manhã ensolarada, a mãe avistou os pequenos frutos vermelhos na árvore. Chorando de emoção, comemorou o milagre. Ele, por sua vez, via e ainda duvidava que as pitangas estavam lá. Entre o otimismo da mãe e o ceticismo do pai, frutificou a árvore, alimentada pelo “pitanguês” da menina.